terça-feira, 15 de setembro de 2009


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O dia era azul  e calmo - como sempre -, e a primeira coisa a se fazer fora cair nos braços de sua mãe em um terno abraço, aconhegando-lhe ali, em seu ninho há muito perdido. As lágrimas também há muito contidas finalmente se permitiam escapar e deslizavam por seu rosto levando consigo toda tristeza, apreensão ou mágoa contida. Em meio a soluços, apenas uma frase era compreensível:

- Mãe... Estou muito cansada...
- Durma, Ana. Pode dormir aqui do meu lado.
- Ah mãe... não é sono... sei lá, tenho medo.


A mulher lhe apertou suavemente contra seu peito e lhe acolheu mais uma vez - uma mãe que não sabia como ajudar sua filha, embora, com seu simples gesto, já a estivesse ajudando. Um ligeiro silêncio se fez antes de a voz rouca e ao mesmo tempo carinhosa ecoou novamente pelo quarto vazio e até então silencioso - a não ser pela branda respiração do canino ansioso ao pé da cama.


- Medo de que, minha filha?
- ... Medo do tempo. Estou crescendo mais rápido do que gostaria, mãe... Estou sufocando...!



A confissão pareceu surpreender a mãe que logo ajeitou a filha fazendo-a deitar sobre seu lado, ficando a afagar-lhe os cabelos com uma mão enquanto a outra lhe secava as lágrimas. Ainda que reconfortada, a menina soluçava e respirava longamente, como se tentasse trazer o ar oxigenado para dentro dos pulmões e este não conseguisse sequer passar por ali. A respiração asmática se seguiu pelo que lhe pareceu uma eternidade, ainda que fosse, na realidade, apenas um minuto. Em meio aos suspiros aliviados que se sucederam, a voz maternal novamente se fez presente no ar, preocupada:

- Eu não entendo... o porquê de você fazer isso, Ana. De tentar parecer forte quando está sofrendo tanto. Os seus amigos têm todo o direito - e dever! - de saber o quão frágil você é. Você é apenas uma menina insegura, tímida e com medo. Não importa que a vejam como alguém extrovertido; você não é! Eu aposto que seus amigos já sabem disso, mas por que você continua fingindo? Comece a mostrar seu verdadeiro eu e você vai se sentir melhor, Ana... Filha, ninguém é tão forte a ponto de poder negar ajuda eternamente. Eu mesma não sou. E se eu não estiver forte, como vou ser forte para meus filhos? Como vou cuidar de vocês e aconselhá-los? (...) Seja sincera! Não só comigo; não só com os outros; seja sincera com você mesma e admita que não tem motivos para usar essa máscara. Demonstre o quão sensível você é...



As palavras da mãe lhe caíram como um soco estranhamente carinhoso e enfim, ela pareceu despertar. Não era uma mudança drástica, mas algo anormalmente meigo estava presente nela. Manteve-se silenciosa por alguns minutos ainda deitada junto de sua mãe - apenas estabilizando sua respiração -, até quando finalmente ergueu a face chorosa. Seus braços se estenderam à cadela deitada ao pé da cama - a qual já se erguera ao mínimo barulho -, e pegou-a no colo, carinhosamente convidando à mãe:


- Vamos mãe? Assistir filme e depois arrumar o cabelo? Eu preciso mesmo, urgentemente, mudar...


(...)"




Não é nenhuma historinha nova - muito menos antiga. É apenas uma cena que de passou no sábado, às 13:30, no quarto da minha mãe, em Além Paraíba - MG.
Talvez resuma muita coisa; talvez seja o necessário, não sei. Apenas é a verdade.



 O que realmente significa um "eu te amo"? Já vi, li e ouvi tantas versões desta frase que nem sei mais qual é a verdadeira.  Nunca fui muito exigente com nada que não fosse eu mesma e sabe, eu sou muito feliz com meus amigos e família. Com meu apartamento, minha faculdade, meu estágio... sou imensamente feliz por tudo que Deus me deu e por tudo que conquistei. E, às vezes, mesmo dentro e toda essa felicidade, eu choro. Sempre me questionei o porquê disso e, sinceramente, eu não sei.
Eu percebi, em meio a toda essa insônia, que eu já perdi muitas e valiosas coisas na minha vida - amigos, oportunidades, amores?! Perdi até mesmo uma autenticidade que jamais pensei que tivesse. Agora, corro contra o tempo; contra minha própria vontade - corro contra meus medos -, para simplesmente cuidar de mim mesma. Se eu não conseguir, cuida de mim enquanto eu não esqueço de você? Enquanto eu finjo... enquanto eu fujo...?

^^ ~

=*

2 comentários:

Hamano Emi disse...

Bem Cah, está ai uma coisa que já foi repercutida durante anos, décadas, milênios... Sobre o nosso suposto eu. Quem eu sou realmente, qual a minha verdadeira personalidade diante desse mundo? Ninguém sabe.
Dês de o momento em que nascemos já não temos uma fixa, nos adaptamos a vários tipos de situações ao longo de nossa vida. Sermos durões quando necessário, frios, atenciosos, agitados, melancólicos... E ao longo de anos de experiência vamos colocando essas máscaras a fronte de nosso verdadeiro eu. São tantas as vezes que temos de nos moldar a alguma situação que já nem mais sabemos o que éramos antes de vivenciá-las...^^... Cah, infelizmente ninguém nesse mundo sabe qual é a nossa verdadeira personalidade, se ela ainda esta dento de nós? Creio eu que sim, mas as máscaras já são um peso tão grande para ela que já não mais consegue retornar...ú,Ù... Mas de uma coisa eu sei, eu vou estar sempre do seu lado independente de ter uma personalidade fixa ou não, independente de estar insegura, nervosa, distante, triste,...afinal de contas todas essas máscaras no final de tudo fazem parte do seu verdadeiro eu...^^...amo vc meu morango com chantili!!!...bjokasss...( ` 3´ )~~S2

Dinossaura-chan disse...

A AnaEls disse tudo o que eu queria falar!
Mas vc sabe que pode contar cmg pra tudo! Sou seu eu infantil lembra?Sempre que possivel estarei por perto para te ajudar... *o*
mesmo vc tendo uns ataques absurdos por causa de coisas EXTREMAMENTE ABSURDARS eu te amo de verdade,amor de irmã,melhor amiga e prima! Não se esqueça disso Carolá Vacudá :D

:*

PS: vc me fez chorar e pensar com esse post >.<'''