quarta-feira, 8 de julho de 2009

" - Sim, eu dormi.

Admiti com uma falsa sinceridade ao ouvir a voz severa de minha mãe através do telefone. Há muito eu não era totalmente sincera, e o que mais me surpreendia, era a minha displicência em não saber quando foi que comecei a ser tão indiferente com verdades completas. Poderia ter sido na infância, enquanto eu me divertia com o vide-game e fingia não ligar para o fato de não ser como as outras garotas e suas Barbies lindas e loiras. Talvez na adolescência, quando eu descobria que uma de minhas inúmeras paixonites estava interessada em alguma amiga minha. Claro, ser sempre o cupido provavelmente me deixara como eu sou atualmente. Culpar os outros é sempre mais fácil, ainda que errado. Na maioria dos dias eu dava graças a Deus por minha mãe e eu não sermos amigas. Não que fôssemos inimigas mortais, - fala sério, não! -, mas não éramos companheiras a ponto de eu contar para ela algum “babado” ou algo do tipo. Isso não fazia muita diferencia: eu nunca tinha um babado, embora tenha amigas. Minha relação com minha mãe é exatamente como tem de ser: mãe e filha. Rimos juntas, vamos à missa juntas e às vezes até choramos no telefone juntas – eu em silêncio quando ela chora e vice-versa. Afinal de contas, uma das duas teria de estar ali, com algum carinho e firmeza na voz ao tentar entender o porquê do choro alheio, apesar de que eu sabia: a distância. Não havia como eu morar longe dos meus pais e não sentir saudades deles e eles minha. Era um custo; todos nós sabíamos e não nos desesperávamos. Quando desliguei o telefone, prometi que iria me dedicar aos estudos e que não ficaria muito tempo no computador. Eu sempre prometo, embora nunca possa cumprir isso inteiramente. Quando ergui a mão ao rosto, no intuito de esfregar meus olhos delicadamente, deparei-me com a fina armação dos meus óculos. Ótimo, eu estava tão aérea na noite anterior que nem sequer retirei os óculos para dormir. Felizmente eles pareciam intactos; analisei-os cuidadosamente ao retirá-los da face. Era menos um motivo para aborrecimento – eu odiava estar sem meus óculos e enxergar a paisagem embaçava a alguns metros de mim. Não consigo imaginar quem goste de tal coisa.Ponderei acerca das possibilidades de leitura que tinha, e ao passar os olhos pelos exemplares da série “Crepúsculo” da Stephenie Meyer – os quais eu cuidava com um carinho exagerado -, a lembrança do senhor vampiresco na noite anterior me assombrara. Eu não me lembrara dele mais nenhuma vez desde quando fui acordada por minha mãe, minutos antes. 'Abri os olhos e encontrei os dele também abertos; seus olhos dourados eram tão profundos que imaginei que pudesse ver sua alma. Parecia tolo que esse fato – a existência de uma alma – fosse questionado, mesmo sendo ele um vampiro. Ele tinha a alma mais bela, mais linda que sua mente brilhante, seu rosto incomparável ou seu corpo maravilhoso', foi o que li, ao abrir de forma avulsa o “Amanhecer” e encontrar-me suspirando pelo simples imaginar de Edward Cullen. Me perguntei quantas garotas atualmente suspiravam pelo vampiro e isso trouxe em mim uma onda de ciúmes. Era um sentimento ridículo, eu sabia. Fechei o livro com uma ferocidade desnecessária – me arrependi logo depois, dando um pequeno beijo na capa do mesmo antes de repousá-lo junto aos volumes anteriores. O mais revoltante era talvez o fato de eu encarar Bella como a garota mais sortuda de todo o mundo. Não que eu quisesse alguém como Edward; mas ainda sim ela estava em vantagem. Independente de ser ou não o vampiro mais amado do mundo nos últimos meses, era alguém. Me enfureci mais uma vez. Eu estava fazendo comparações com uma personagem de um livro! Meu Deus, onde minha sanidade foi parar¿ Estalei os lábios e por fim saí da cama, logo abrindo a janela para poder investigar o clima impossível de se averiguar por trás da cortina que obscurecia meu quarto. Eu gostaria de poder, no momento em que fitei o céu azul, saber o que deveria fazer naquele dia que se iniciava, entretanto isso não era assim tão fácil. Suspirei e após um demorado banho gelado, vesti minha camiseta preferia junto a um jeans antigo e um tênis e saí de casa. Meus passos seguiam o ritmo da música em meus ouvidos e o “Seize the day” cantarolado para mim me fez, por um segundo, imaginar que aquele dia poderia ser diferente. Mudei de idéia drasticamente ao escorregar e cair sentada no chão molhando minha calça com um líquido viscoso. Apoiei-me com uma mão para levantar do chão e, ao direcioná-la à minha nádega, averiguando o estado do jeans, desejei sinceramente que minha menstruação estivesse adiantada. O sangue não era meu; conclui ao vê-lo deslizar em forma de uma pequena gota por entre meus dedos e então cair novamente sobre a poça que se fazia no chão, ao lado do corpo exposto do que antes fora uma mulher. Eu gritei até ser silenciada de forma rude, por uma mão desconhecida. (...)" - Instinto: as sensações de uma solidão acompanhada





Férias! Vem inspiração, vem!

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Um comentário:

Nefelibata Paranóico disse...

Já que o Paranóico não passa por aqui pra comentar no seu blog, eu faço isso... Cadê o resto?! Eu fiquei aui babando pela delicadeza objetiva das palavras, o jeito simples de se narrar um cotidiano, e você me pára na melhor parte? Isso é uma grande injustiça, caso você não sabia. Espero poder ler mais em breve!